terça-feira, 12 de julho de 2011

Pilly Calvin

A vida de um ator é uma estrada praticamente só;
Se não fossem os amigos, encontros e despedidas que acontecem quase diariamente.
A vida de um ator, na verdade não existe para si, e sim para DAR vida a tudo que se existe - até mesmo para o ator.
Sentir o peito queimar e arder - o quanto cerveja alguma há de resfriar - sentindo mais uma vez o caminho só.
Só o caminho. Me esperando.
De olhos vendados cheguei nesta cidade.
Quando consegui enxergar novamente, foi o momento em que esta cidade me adotou por inteiro.
Assim, cada lágrima que transborda de meus cálices tem a fuligem de tudo e todos que conheci.
Difícil será não pensar em todos vocês.
Doídos serão os crepúsculos sem o céu e a Santa Cruz.
Amargas serão as noites que não terei vocês para tomar um trago.
A arte é sensível!
O ator é tão humilde que empresta seu corpo para dar vida à outrem.
E assim fica tão exposto que para lhe fazer mal é simples.
Mas cada célula banhada de um ator está condicionada a CRER.
Pensei em me fechar. Me perguntei: Pra quê?
Mesmo sabendo que nunca conseguiria...
Voando entre amores, passando uma hora aqui, outra lá.
Podendo sim pousar no mesmo lugar em outro momento.
Que direitos temos de cativar alguém e partir?
Que direito é este que eu tenho de fazer isso com todos vocês que me acolheram?
E cada vez que mudo a minha vida e pego mais uma estrada, tudo fica diferente - até mesmo a estrada de volta para casa, que já não tem o mesmo cheiro, nem as mesmas flores.
Um Espaço tão vivo - faz jus à quem lhe dá a alma, ainda que doando a sua própria.
Alguém que tem o abraço dos cosmos; uma mulher que me foi mãe, uma mãe que nos é amiga, uma amiga que de tão grande é deusa.
Grande por não se caber em si.
Por ser grande, a suavidade da humildade.
Pilly Calvin.


Texto original que escrevi e foi lido ao final da última apresentação da primeira temporada d'O Ferreiro e a Morte em Santa Cruz do Sul - RS - e último dia da minha primeira temporada naquelas terras.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pode parecer sensível demais
Sentimental demais
Solitário demais
Mas é que para quem mora próximo ao mar deve sentir mais
E quando chega o inverno e sentimos a maresia gélida
O frescor polar
O vento que invade e desloca o espírito do corpo
Tocando na pele é sensorial demais
A derme se contrai, o pelo se arrepia, a pupila se dilata
O coração fica espremidinho
Buscando um espasmo de calor daqui e dali
A mente paira
Apenas estar
Sem todos vocês
Vagueando
Piegas ficaria decepcionado.